2 de junho de 2014

Vingança planejada

O menino vivia em cima das árvores, num piscar de olhos e lá estava ele no galho mais alto do pé de caju. A mãe não sabia mais o que fazer, quase não tinha voz de tanto gritar todos os dias com seu pequeno.
- Menino, desce daí. Tu não é o Tarzan não!
- Eu já sou acostumado. Faço isso todo dia. - ralhava o garoto, todo orgulhoso de suas peripécias.
E não teve outro jeito a não ser mandar cortar todas as plantas do quintal. Todas menos um micho pé-de-limão.
- Pronto, agora quero ver tu me agoniar o juízo com essa tua mania de viver trepado. - disse ela, em tom de vitória.
- Eu não acredito, a senhora derrubou tudo! Eu amava aqueles pés-de-manga e o pé-de-caju. - reclamou o moleque com a voz embargada.
- Eu te avisei que um dia eu ia fazer uma contigo, tu não me obedece.
- Devia ter cortado tudo logo, foi deixar só esse limoeiro sem graça.
- Deixa ele lá, vou usar os limões pra fazer meus temperos e pra misturar com alho e fazer teus remédios. Tu só vive gripado.
- Fruta "réa" sem graça. E não dá nem pra subir nele. - completou caindo no choro e logo correndo para seu quarto.
A árvore que ficara era baixinha e perdida no meio das outras que antes moravam ali. A mãe do garoto tinha plantado bem depois que ele nasceu, e o menino mal tinha cinco anos. Muitos dias se passaram e ele vivia triste e trancado no seu quarto. Quando chegava da escola ia direto se entocar no seu cantinho, saudoso e em luto pelo o que sua mãe tinha feito. Sem saber o que fazer, a mulher resolveu apelar pro gênio do pequeno vingativo que ela sabia que tinha.
- Meu filho, vamos conversar. Eu deixei aquele pé-de-limão ali, porque foi seu avô que plantou ele, há muito tempo atrás, antes mesmo de eu nascer e eu gosto muito dele.
- Pois espero que as lagartas vejam ele e resolvam ficar por la, comendo folha por folha. - falou sério e pausadamente.
- Nossa, menino. Credo! Como você é ruim.
- Ruim é a senhora, que destruiu minha alegria de todos os dias. - retrucou ensaiando um choro.
-Pois vamos fazer assim: eu vou cortar aquele pé-de-limão que você não gosta, mesmo que isso me doa muito, e ficamos quites. - falou com um profundo pesar forçado, atuação digna de novela mexicana.
O garoto abriu um sorriso no canto da boca e concordou com a decisão da mãe. A mulher foi logo pegando um machado e golpeando forte a pequena árvore que nada tinha com a história toda. Mas pagou por não ser tão bonita e frondosa, uma das queridas do menino. E ele ficou feliz de novo por ter vingado suas plantinhas. Como é difícil educar os filhos.

Nenhum comentário: